A puta da mania

Consta que os portugueses são um povo de manias. Não só no seu sentido mais lato como em todos aqueles que se possa pensar em atribuir e que invariavelmente começam com a frase «Pah aquele gajo tem a mania de...». E é aqui que as coisas se complicam. Porque para cada maluco a sua mania e são tantas que até se podia escrever uma tese de mestrado com base nelas.

A terra não gira em volta do sol coisa nenhuma, gira sim em volta das manias do próximo. O desabafo que vem de algures perto do pâncreas e que soa mais ou menos assim «O Leôncio tem cá uma mania de olhar para as mamas das gajas» faz com que imediatamente o Leôncio se torne numa maníaco. Neste caso por mamas (legítimo...), mas podia ser por outra coisa qualquer, como ter a mania de nunca baixar a tampa da sanita. 

«Aquela tem a mania que é esperta» ou «Tens a mania de deixar a roupa toda espalhada no chão» ou «Essa mania de me interromperes quando falo» são apenas uma pequeníssima amostra do vasto leque de manientos com quem convivemos a diário.  O caso torna-se mais grave quando falamos na puta da mania. Ter «a puta da mania» já é um caso de mania agudo, já confere um certo estatuto. «Ou perdes a puta da mania e começas a baixar a bolinha ou (é aqui que entra o factor ameaça, também bastante diversificado conforme a situação pedir, vulgo: parto-te a boca toda, fodo-te o lombo, vais buscar a cabeça ali ao fundo, etc. etc.). 

A puta da mania que habita na maior parte de todos nós é a de que sabemos tudo o que há para saber e ainda mais um bocadinho, se possível. É preferível dizer a maior bestialidade a admitir que não sabemos de que estão a falar. A puta da mania, tal como muitas outras, veio para ficar. O saber tudo, esse já há muito que se instalou. 

Aguarda-se ansiosamente pelo sabichão que, invariavelmente, gosta de dizer com toda a moral de que é capaz de se encher , enquanto palita os dentes e afaga os genitais: «Eu tirava-te essas manias todas...».