Calar




 O vento a dar-me bofetadas na cara e a combinar tão bem com a desilusão que entretanto chegou. É quase como se fosse a imagem perfeita, e ela apareceu trazendo consigo o vento nos cabelos, na face, o desalento espelhado no sorriso que se esforça por abrir. Também tu estavas destroçado pela vida, pelos problemas, pelo afastamento que se impôs entre nós. 

Também tu entornavas cansaço no olhar, na voz, nos gestos. Talvez por isso não me alonguei muito em conversas. Talvez por isso tenha preferido, uma vez mais, guardar as palavras para mais tarde, até ter de as abafar naquele recanto que já me é tão familiar. O recanto das coisas difíceis, o recanto que não quer falar, o recanto que gosta de estar sozinho. 

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