Perda



Nunca lhe tinha passado pela cabeça que desinteressante pudesse ser a palavra mais acertada para a descrever nos últimos dias. Simplesmente não fazia sentido, ela sempre tão cheia de vida, de coisas para dizer, ela que conseguia sempre arrancar uma gargalhada fosse a quem fosse. Agora via-se calada, tão calada, parada a um canto e a vida a fugir-lhe por entre os dedos. Quanto tempo até ficar totalmente só? Era inevitável que os outros se fartassem, se ela mesma estava já tão farta.

Depois a partida da irmã, foi quase como se acreditasse até ao último minuto que as coisas não estavam de facto a acontecer, demorou bastante a convencer-se a si própria. A falta de jeito para despedidas, nunca soube como lidar com elas, preferia ser cobarde e esconder-se para não ter de o fazer. Tinha pensado que gostava de dizer coisas, muitas coisas, mas na altura só lhe saíram frases ocas, despropositadas até. Acabou a dizer aos seus botões que ia ficar bem, afinal de contas, ela ficava sempre bem.

E era a estúpida ideia de se achar velha, velha como os trapos, velha como se tivesse cem anos e não como alguém que ainda nem completou os vinte e cinco. Velha e monótona, quem o poderia imaginar há meia dúzia de anos, quando os dezoito ainda significavam todo um mundo para descobrir. Agora é como se o mundo estivesse morto ou então é ela que morreu e ainda ninguém se deu conta. Os dias são todos iguais, uns a seguir aos outros, como num estranho complot contra a sua sanidade mental, as coisas que antes lhe davam prazer já não despertam qualquer emoção e esqueceu-se até de como era rir. Mas rir a sério, nada dessas gargalhadas pré-fabricadas que agora se ouvem por aí. 

O corpo que habita em total anarquia. Ela pousa as mãos na cabeça e sente o que se perdeu. Sentimento destrutivo, a perda.

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