Solidão




A vida resumida em meia dúzia de páginas. Os diários, as agendas, as listas de coisas que acabaram por não se fazer. Continuo sem saber lidar com a rejeição. Admitir que afinal não sou genial como pensava, admitir que os demónios são mais fortes que eu, admitir que os meus medos são infinitos – são confissões a mais para uma noite só. Já admiti muita coisa. Escancarei-me de par em par e agora nada mais tenho para partilhar, vou ficando oca à medida que os dias correm. Sou uma representação de mim, uma representação encarquilhada, que desbotou e perdeu o interesse. Um lobo solitário. É assim que me vejo, é assim que sou. Há vários tipos de solidão e a que experimento agora não é cruel, não macera, é até libertadora. 

Olho para ti e fico triste. Não sei como se pode ficar triste desta forma, mas eu fico. Porque eu vejo. Porque eu consigo ver como tudo está diferente. E não sei se será para melhor, por isso fico apenas triste e espero. Espero uma resposta, espero pelo tempo que passa, espero por tanta coisa que nunca acontece porque eu não faço acontecer

Olho para ti e tenho medo. Medo que me odeies pelo que não digo, pelas coisas que não faço, medo que simplesmente deixes de gostar de mim porque eu não fui capaz de preservar esse amor. Tu não me olhas, entretido a soprar o fumo do cigarro para longe e é a mim que me sopras também para longe em grandes baforadas, a mim que já fui tão parte de ti que era quase impossível dissociar-nos, a mim que te olho com tristeza porque já me cansei de ter medo.

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