O Natal, outra vez


 Pois é, chegou o Natal. Outra vez. E com ele a correria desenfreada às lojas, a loucura das compras, as pilhas de presentes que ninguém dispensa. O consumismo, sempre. Quando a crise está na ordem do dia, passando de boca em boca há tanto tempo que até enjoa, chega esta altura e a crise passa a ser mais uma palavra, daquelas que de tanto serem repetidas já não querem dizer nada. Crise onde e para quem? Para a senhora coberta de peles até aos olhos, a transbordar de gordura e de embrulhos ou para o pobre que, sentado no chão, coberto de trapos, levanta as mãos ao céu e clama que tem fome? Pois é, chegou o Natal. Outra vez.

Porquê esta espécie de insanidade? Num país onde todos proclamam que não são católicos e ninguém vai à Igreja, que diabo é o Natal então? A porcaria das prendas, mesmo que nenhuma corresponda às necessidades de quem as recebe? Comer dia e noite, porque o que não mata engorda, e fechar os olhos à miséria que espreita em cada esquina? Juntar a família que durante o ano inteiro não se vê porque ninguém se grama, mas todos fazem o frete e fingem gostar muito uns dos outros, mais um ano, pois é, cá estamos? Que sentido, tudo isto? Que Natal?

Tu gostavas tanto do Natal, de fazer o presépio com as suas inúmeras figuras e carreiros de musgo, adoravas as luzinhas e as estridentes canções que tocavam, ainda que todas desencontradas umas das outras. Tu sabias o verdadeiro significado do Natal e eu precisava tanto que estivesses aqui agora para mo recordar. Para que eu não estivesse aqui a desejar que tudo passe rápido, só para eu não ter de notar, mais do que nunca, a falta que fazes. Para eu deixar de ser tão amarga e voltar a gostar, como tu gostavas. Porque isto sem ti avó.... isto sem ti não faz o menor sentido.

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