E depois do sexo


Estás a gostar, pergunta-me, o mais lógico era dizer-lhe que sim, que estou a gostar, que está a ser óptimo, mas na verdade estou a modos que um pouco ausente, não sei se desconcentrada será a palavra certa. Qualquer forma de sinceridade neste momento seria cruel, arranjo maneira de contornar a questão, não lhe digo que se cale, mas é quase isso. 

Todo ele empenhado, vê-se que se está mesmo a esforçar, é o vigor da juventude, é a vontade de agradar, arremetidas violentas, não sei bem o que pensa estar a fazer. Pede-me que gema para ele, nunca fui condescendente com este tipo de coisas, não me venham falar de incentivos, digo-lhe que faça por isso. Chega a altura em que não é só a minha mente que não está lá, o corpo abandona-me também e fico a vê-lo possuir aquele corpo que não é meu, já não há como obrigá-lo a regressar. Mais uns minutos e tudo terá terminado. 

Depois o silêncio, uma espécie de vazio e não foi só por não me ter dado um orgasmo, podia ter tido múltiplos que a sensação seria a mesma. Deita-se de costas e abraça-me, quase se zanga porque não lhe faço festas, não sei porque é que existe esta ideia que depois do sexo tem de haver mimos e coisas. Estou mais preocupada em encontrar a minha roupa, as cuecas não estão em parte nenhuma, continuo a procurar, busca desenfreada, por mim pegava já em tudo e desandava, era mesmo isso que eu devia fazer.

Talvez ele adormeça agora, só espero que não se agarre a mim, tentáculos de polvo, estão por todo o lado, o corpo já é meu outra vez e não quer que lhe toquem. Tento organizar as ideias, demasiado difícil, decido que posso fazê-lo mais tarde, agora o que interessa mesmo é a minha roupa, consigo irritá-lo ligeiramente, é sempre algo que faço com facilidade. 

Não temos absolutamente nada a dizer um ao outro, pelo menos nada que interesse, se calhar nunca tivemos e só agora me estou a aperceber. É possível que depois do sexo uma pessoa fique mais lúcida, dizem que o desejo nos tolda a mente, o sexo também pode ser uma boa forma de libertar demónios. Nem um cigarro me apetece fumar, bolas, isto foi mesmo mau. 

Diz-me que quer mais e eu não encontro outra resposta que não seja rir, aquele riso que quer dizer tudo menos alegria, um riso que insinua que mais insuportável do que tê-lo neste momento a meu lado seria tê-lo dentro de mim, riso de troça, da víbora que acabou de envenenar a presa, é o riso de alguém que finalmente conseguiu encontrar as cuecas.

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