Desfecho (1ª parte)

Gosto de elaborar histórias na minha mente. Histórias que não conto a ninguém. Sei que raras vezes se concretizam. Também sei que devia ter-me preparado melhor. Tinha tantos discursos planeados, tanta coisa para dizer. Tanta coisa por dizer.

Cinco horas antes
Não sei o que vestir. Já violei o conteúdo das gavetas e explorei cada recanto do armário, mas é um território bravio, que não domino. Talvez devesse meter-me no duche primeiro. Vestir qualquer coisa, aquilo que a mão alcançar. Afinal, as coisas acontecem quando não estamos preparados para elas. Merda, nunca gostei de surpresas.

Quase uma hora mais tarde
Tenho fome. As bolas de pêlo que se amontoam no estômago não me saciam. O próximo passo é fazer o jantar. Ou secar o cabelo. A indecisão está na ordem do dia. Deixá-la por completo em casa, não me fará falta mais logo. Gostava de poder afirmar - de modo a poder convencer alguém - que sei exactamente aquilo que pretendo. E que não tenho saudades de qualquer espécie. 

Depois do jantar
A moleza agora. Se me estendesse na cama, só um bocadinho, só mesmo um bocadinho. Se o meu telefone tocasse.

Os minutos decisivos
Aprendi que o medo nos imobiliza e nos leva à estagnação. Não aprendi ainda a deixar de o sentir. Não aprendi ainda a deixar de sentir de todo.  

Pronta
Vestida, cabelo (des)penteado, dentes escovados. Insegura. Vão-me tremer as mãos, tenho que ter cuidado quando acender cigarros. Ainda estarei a tempo de cancelar? Construo uma história com final feliz para me dar coragem. Sei que não vai acontecer, mas agarro nas chaves e sou engolida pela noite. Estou farta de adiar a vida.

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