Desfecho (2ª parte)

Dias antes
Ando a adiar para ver se ganho coragem - mas coragem para quê? Ganha-se coragem para saltar de uma ponte ou para marcar um penalty decisivo. Se calhar não passo de uma mariquinhas, daquelas que pedem salsa, mas chegam a casa e não têm salsa. É capaz de ser mais ou menos a história da minha vida. E eu que nem gosto assim muito de salsa.

Há cerca de um mês
Não sei o que ando a fazer, mas aposto que ele tem um plano. E guia-se escrupulosamente por esse plano, sem deslizes, sem abrir excepções. O plano que dita que, depois do sexo, não deve haver mais palavras trocadas. Acho que não sou pessoa de deixar o que quer que seja por dizer.

Quando?
Inícios. Acho que gosto de inícios. Onde nada nos é exigido nem cobrado e onde podemos esperar o que quer que seja. Eu costumo dizer que espero tudo sem nada esperar. Assim é raro alguém conseguir desiludir-me. Só que, mesmo sendo raro, as coisas acontecem e há que estar preparado. Que é exactamente aquilo que eu não estava.

Segundos antes do desfecho
Breve rasgo de lucidez, mas já é tarde demais. O fim há muito que começou. Afinal de contas, não há nada que mereça ser falado, já passou tanto tempo que nada faz sentido. Nada nunca fez sentido.

Desfecho ou o que quer que seja
Fico para aqui a sentir-me idiota. Mais idiota, queria eu dizer. Há coisas que nos fazem crescer e este não foi, definitivamente, o caso. Quase podia apostar que regredi, dizem que a estupidez é contagiosa.


Já tinha dito que gosto de criar histórias. De imaginar diferentes finais. De todos, este era aquele que eu não esperava. Afinal, as coisas acontecem mesmo quando não estamos à espera.

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