Promiscuidade



Gosto da palavra. Das cócegas que me faz quando a sopro entre os lábios. Gosto da conotação de que se pode revestir quando dita pela boca certa. Não é ao acaso nem todos os dias que se podem estabelecer relações assim.

Mas é num dia como este que sabemos que nada nos pode afectar. Que podemos dizer à colega que tem cara de cavalo, porque, afinal de contas, ela já nos odiava antes. Que podemos tirar o dia para ir passear de mãos dadas com as mãos erradas, mas que hoje são as certas. Não nos podem afectar porque demos o melhor de nós e ficámos sem nada. E quem não tem nada, já nada pode perder

Quero entrar naquele elevador de vidro sem pensar que posso não voltar mais. Já tinha dito que sou resistente à mudança? Todo o meu corpo se rasga ao ouvir «última vez». E volto a pensar na promiscuidade e nas tiradas brilhantes, na ciência da achologia e nas incoerências, porque «pobre do homem que não é incoerente, é porque não é inteligente».

Ensina-me. Vê-me. Já não há mais pele que me possam arrancar. As minhas entranhas são agora bem visíveis. Não foi por te ter mostrado as minhas feridas que me tiveste em maior consideração. E agora que a simples de ideia de respirarmos o mesmo ar se afigura quase insuportável. Talvez não respire, de todo. Talvez o oposto do amor não seja mesmo o ódio, mas sim a indiferença.

Comentários