Coisas sobre as quais não falo


Há coisas sobre as quais não falo. Não é fácil conhecer-me. Não é fácil dar-me a conhecer. Quando os silêncios se instalam, faço perguntas sobre ti, perguntas atrás de perguntas, não deixo sobrar espaço para mais nada sem seres tu. 

As pessoas têm este tipo de egoísmo, quando começam a falar delas, esquecem-se que existe mundo para além disso. 

Acaba sempre por reverter a meu favor, quem está ocupado a falar do próprio umbigo não se lembra de fazer perguntas a ninguém. Detesto quando fazem as perguntas erradas. Há coisas sobre as quais não falo. 

Zona de conforto. Não faço a mínima ideia do que estamos a fazer, mas sei que não posso abandoná-la. No momento em que a sentir ameaçada, escolho ser cobarde. Escolho virar costas e ir embora. Escolho-me a mim, porque sabes que nunca te escolheria a ti. 

Não falo sobre sentimentos. Não falo sobre coisas que fazem doer. Não falo sobre morte. Não falo sobre a minha mãe. Não falo sobre o que me tira o sono todas as noites. Não falo sobre medos. Não falo sobre ti. 

Passámos metade da noite enfiados no carro e o mundo lá fora. Acho que chovia, não me lembro bem, devia chover, porque os vidros estavam embaciados. Eu fumava cigarros e disparava perguntas certeiras para matar o silêncio que ainda era incómodo entre nós.

Depois deste-me a mão e fixaste um qualquer ponto distante lá fora. Para não estar sempre a olhar para ti, explicaste. E acabámos os dois em silêncio, que não mais voltaria a ser incómodo entre nós. Há coisas sobre as quais não falo. Nunca.

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