Lobo solitário


E disse-lhe que desistia. Uma simples palavra, desisto. Não trocámos mais nenhuma desde então e eu não sei dizer se me sinto triste ou aliviada. Sei que os medos voltaram em força. Medo de tudo e de nada em particular. No topo, erguendo-se sobre todos os outros, sempre um inexplicável medo de falhar. 

Hoje, a ouvir-te falar, senti uma vontade tão grande de, por uma vez que fosse, poder chamar pai a alguém. Nunca chamei pai a ninguém. É uma palavra quase estrangeira, parece que queima a língua, são três letras apenas e a diferença que três letras podem fazer. Tenho medo, porque sei que estou danificada para o resto da vida pela falta que me faz.

Não quero estar sozinha. Repudio a solidão que sempre tanto apreciei. O lobo solitário quer perder-se pelas ruas banhadas de lua. Ainda não descobri se estou melhor contigo ou sem ti, mas já descobri que não consigo estar nem de uma forma nem de outra. Porque me afectas?

O tempo passa, aproxima-se a hora e tu não apareces, confirmando as minhas suspeitas. Respeito a tua escolha porque fui eu a primeira a desistir. Porque não posso esperar que aceites, muito menos que entendas, a escuridão que mora em mim. Porque desisti, mesmo sem ter a certeza se estava preparada para assumir as consequências da minha decisão, mesmo sem ter a certeza que o queria fazer.

Perguntas-me onde andei todo este tempo. A pessoa que em tempos conheceste. Tu mudaste, acusas-me. Acusas-me de tanta coisa, mas dizes que não queres afastar-te de mim. Ou quererás?

A alcateia dispersa e as sombras em mim. Tenho medo de começar a viver e medo de não ser capaz. As horas escorrem molhadas e as minhas ânsias são infinitas. Aquelas alturas em que não sei o que quero, mas sei que preciso de adormecer o demónio. O demónio nunca dorme.

Deixa-me experimentar-te, quero experimentar tudo, pode ser que me faças sentir qualquer coisa, quanto mais não seja arrependimento no final.   

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