Fraude


Se não te mata, deixa-te mais forte. Pois sim. Não mata, mas mói. E de que maneira.

Já perdi a conta às vezes que li as mesmas mensagens, mas ainda assim, volto a pegar no telefone. Caixa de entrada, uma mensagem após outra, leio, volto a reler, procuro significados ocultos nas entrelinhas, procuro algum tipo de conforto, nem sei bem. Ponho o telefone de lado, não vou fazer nada estúpido de que depois me venha a arrepender.

Fotografias antigas, do tempo em que ainda havia rolos e negativos e era toda uma excitação quando se ia ao fotógrafo revelar. Fotografias com mais de dez anos, cheias de sorrisos e todo um futuro pela frente. Estava mesmo feliz quando as tirei, difícil voltar a sentir-me assim.

Queria pedir à vida que esperasse, que esperasse só um bocadinho. Que esperasse por mim, para eu me sentir preparada para a viver, para eu ter todas as certezas do mundo, para ter tempo de encostar a cabeça à parede e pensar. Queria pedir-lhe que fosse paciente comigo, que parasse de passar por mim a correr, que parasse de me escapar por entre os dedos. Queria pedir à vida para fazer de mim o que eu não fui capaz de fazer dela.

Sou uma mentira, uma miragem, uma fraude. Tenho dentro de mim todos os sonhos, todas as palavras, todas as ânsias, tudo aquilo que poderia ser. E sou nada.

Agora já não é só em público, agora já nem sozinha consigo chorar. Acho que sequei mesmo. Sou mais árida que o deserto.

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