Insaciável


Não posso estar mais contigo, agora é a sério, esta foi mesmo a última vez, a última, acabou, não consigo, não posso,

todo um drama e ainda ela mal se tinha levantado, mal tinha erguido um braço, uma perna, o corpo todo, continuava ali, nua, deitada na cama onde se tinham misturado há escassos minutos, o corpo ainda mole, ainda quente, 

Não te estejas a rir que não é a brincar como das outras vezes, não dá mesmo, esse teu jeito, eu não sei o que tu me fazes, sei é que não te volto a dizer nada, não quero mais estar contigo,

agora já estava sentada, as pernas meio dobradas, o espelho em frente, ele a andar de um lado para o outro, a entrar e a sair do quarto, quase sem conseguir olhá-la, 

Não dá, não posso, acabou, não consigo,

e era a cabra dentro dela que estava a ouvi-lo e a rir, a rir-se e a ouvir, a provocação no olhar, na boca, na nudez espalhada pela cama, 

Tu transtornas-me, dás-me uma sede insaciável, fazes-me mal, não podemos continuar nisto, não podemos estar juntos,  chega desses teus truques,

chamou-o enquanto fingia vestir-se, ainda o riso a estalar nos lábios, ainda sem descolar o desafio do olhar, o corpo ainda com o rasto do corpo dele,

Deixa-me, deixa-me, não me toques, não podes tocar-me,

continuava a ser a cabra a atormentá-lo, a persegui-lo pela casa, a duvidar das suas palavras, a cabra que teimava em tocar-lhe, que se recusava a sair sem voltar a sentir-lhe o contorno das mãos na pele,

Ficamos assim então, é melhor, não me digas mais nada, a sério que acabou,

e era já a menina que o ouvia, a cabra tinha dado lugar à menina que saiu porta fora para não mais regressar, levando para longe os truques, a provocação, o corpo, o desejo, a menina que se ia certificar, de uma vez por todas, que a cabra não mais voltaria.

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