Leonor


Gosto dela. Gosto mesmo. Sei que não lho digo muitas vezes mas, afinal de contas, também não o digo a ninguém. Acho que as pessoas se vão acostumando a esta minha maneira de ser. Mas a ti, que ainda não me conheces, digo-te que esta minha maneira de ser é errada. Que, quando se gosta, deve dizer-se e não apenas uma vez. E olha que eu gosto mesmo dela.

Se calhar já sabes que ela é a minha pessoa. Provavelmente ouviste, mas ainda não conheces a história. A nossa história é gigante e não te vou maçar com isso agora, mas isto de ela ser a minha pessoa começou por causa de uma série, uma série de que ambas gostamos muito. Essa mesma. «Se eu assassinasse alguém, ela era a pessoa a quem telefonaria para me ajudar a arrastar o corpo pelo chão da sala». Não preciso acrescentar muito mais.

Não te admires quando nos vires a implicar uma com a outra, é o que de mais próximo temos como demonstração de afecto. Tudo o que servir para troçar e arreliar, tudo o que der para fazer uma piadinha parva. Uma vez, no aniversário dela, a coisa mais carinhosa que encontrei para a felicitar foi despenteá-la com todo o afinco que me foi possível. Lá de falta de originalidade não me podes acusar, não.

Temos memórias fantásticas e devíamos estar neste preciso momento a construir mais. O tempo é implacável, sabes. Não pára nem um segundo, sempre cheio de pressa e acabamos por deixar coisas por dizer, por fazer. Acabamos por ir adiando a vida.

Acho que a abracei mais vezes nos últimos meses, com ela grávida de ti, do que durante todos estes anos. É como te dizia há pouco, eu e a tua mãe não temos grandes hábitos carinhosos. Ou não tínhamos, até tu existires. Talvez, afinal, as pessoas mudem. Toda a gente sabe que um bebé muda tudo e tu não és só um bebé, és o bebé dela, o que faz com que sejas a minha little person. Mesmo agora, antes de nasceres, já gosto de ti. Já muita gente gosta de ti, sabes.

Quero dizer-te tanta coisa. Ao longo da vida fui deixando muito por dizer. Não vou fazê-lo contigo, por isso começo já, enquanto ainda vais dando pontapés na barriga da tua mãe. Começo por dizer-te que quero ser a melhor tia que alguma vez existiu. Que vou estar sempre por perto, que quero certificar-me que tudo corre de forma perfeita. O mundo pode ser um sítio cruel e é insuportável a ideia que alguém te possa magoar, despadaçar o coração, arrancar-te lágrimas. Quero dizer-te que gosto de ti, não uma, mas muitas vezes, para que não fique nenhuma dúvida. Que tenho tanta curiosidade em conhecer-te.  E que temos o tempo de uma vida para o fazer.

Comentários