Flagelação


Alguém fácil de deixar. Ainda mais fácil de esquecer. É isto. Arquejo e penso que mereço tudo aquilo que estou a sentir. E que só nos acontece o que conseguimos suportar. E mais um ou outro cliché, merda, odeio clichés. Não há ninguém que me possa salvar de mim mesma.

Se ao menos.

Perder-me pelas ruas. As ruas que me conhecem os passos, as ruas onde, em tempos, me deparei com a perfeição decapitada numa poça sangrenta. As ruas que não me levam até ti. Quero ir para casa. Quero esconder-me do mundo. Quero enterrar a cara na almofada e, por uma vez, chorar à vontade.

Porque é que não te encontro?

Disse-te uma vez que estava danificada. Disse-o em jeito de desculpa, como que a justificar a minha falta de confiança em ti. Mas a verdade é que estou mesmo e que vai levar ainda muito tempo até conseguir coser os bocados uns aos outros. E toda a gente sabe que um remendo nunca fica como o original.

Não tenho que me explicar a ninguém.

Quando a tristeza se infiltra pelos poros. Escolhi deixar-te porque deixaste de me escolher. E agora chega de sentir. Quero voltar às minhas histórias com finais felizes. Quero recordar a mim mesma que estou viva... e estar viva é estar aqui e agora, com este céu tão azul e o sol a aquecer-me o corpo.

Sair de casa e esbarrar em histórias antigas e inacabadas.  A minha boca transborda de palavras.

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