Masoquismo


O que é que esperavas? Um melhor amigo?

As palavras, ditas quase de repelão, atingem-me em cheio qual murro no estômago, acho que até perdi a vontade de beber o resto do café. É esta a realidade, nua e crua, amizade foi algo que nunca esteve em causa. Amizade dá muito trabalho a construir, requer esforço e entrega e não vive de meias palavras. 

Sinto uma necessidade premente de me ir embora, de fugir dali, nem sei porque é que vim, estive quase para não o fazer. Gosto de acreditar naquilo que de bom há nas pessoas. Não gosto de coisas mal resolvidas, palavras por dizer. Mas, soube-o neste instante, mais do que em qualquer outro, aqui nada resta que valha a pena conservar.

Fica-me tudo preso na garganta. Queria dizer que esperava um amigo, sim. Que amigos há poucos. Que é muito mais difícil encontrar um amigo do que alguém para ter sexo. Que o vazio tem sido constante nestes últimos tempos e que uma palavra calha sempre bem. Queria dizer que não esperava que me achasse digna da sua cama mas não da sua amizade.

Se quisesse apagar-te da minha vida já o tinha feito há muito tempo. Ainda para mais, quando já atingi a meta.

 Não reconheço a pessoa sentada à minha frente, que tirou o dia para me ferir. Talvez eu mereça - será que mereço? É esta a imagem que passo para o mundo, é esta a imagem que o mundo me devolve. A cabra sem sentimentos não precisa de amigos nem de pezinhos de lã. Limita-se a acenar em concordância e a nada dizer, nada sentir. Pouco há que ainda me faça sentir. 

Deixo de ouvir as suas palavras, o incessante tagarelar absurdo e sem sentido. Sei que desisti e sinto uma desilusão muito grande. Estou decepcionada comigo mesma, sou a única pessoa de quem ainda esperava alguma coisa. Bocados que me vão tirando. Pergunto-me quando não restará uma só migalha daquilo que um dia fui.

Quando já estás amachucada, mas ainda te pisam mais. Quando sentes que és carne para canhão. Quando a promessa de dias melhores se afigura cada vez mais distante. Saio daquela casa pela última vez. Saio sem me despedir e sem olhar para trás. Não, não estou bem. Não estou nada bem.

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