Ride


Pinto cuidadosamente uma unha de cada cor. Verde, amarelo, laranja, rosa, azul. As cores a fluírem e as ideias a atropelaram-se, o laranja a misturar-se com o verde e os lábios a desenharem um sorriso idiota. Amanhã vão perguntar se perdi o juízo e eu vou pensar que não se pode perder aquilo que nunca se teve. O amanhã tem tempo de existir. Hoje só quero esta embriaguez de cor, este sorriso leve e distraído de quem tem um segredo que não conta a ninguém.

Folheio os últimos meses e o que deles restou. Meses em que sorri sempre que tinha vontade de chorar, em que me calei porque me era impossível falar, meses em que disse tantas vezes que estava bem que acabei por acreditar. Dias, semanas e meses até me conseguir devolver a mim mesma. E agora as cores e os sorrisos e as ideias desconexas. 

Acendo um cigarro, sopro a angústia para longe em espirais de fumo. Também eu poderia ser soprada para longe, também eu em parte incerta, em sítio algum e em todo o lado ao mesmo tempo. 

Simplicidade. Tudo o que é fácil e bom e não faz doer. Despejo palavras porque sim, porque me apetece, não quero que se esgote nunca o assunto entre nós. Falo demais, falo por falar, falo sem me esconder, falo para que me vejas. As cores são tantas e tão transparentes. Consegues ver-me? Tenho receio de me perder sem que haja alguém que se aperceba.     

- Cansada que me olhem como se fosse simplesmente louca. Cansada de não conseguir pôr em ordem estes anseios, todas estas obsessões.

Quero sentir. E sentir é estar viva, aqui, agora, já. Tenho tanto medo de me limitar simplesmente a existir. Ninguém pode ser brilhante contentando-se com a mera existência.

«I drive fast, I am alone in the night... Been tryin' hard not to get into trouble, but I, I've got a war in my mind... I just ride, just ride...»

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