Descontrole


Chuva que não pára de cair. Escorre pelas ruas e escorre-me pelo corpo. Quero as tuas mãos em mim. Passo os dedos pelos lábios, pelo pescoço, percorro cada centímetro de pele. Tenho de me tocar para simular a tua presença. A cabeça inundada de todas as coisas que dissemos e deixámos por fazer.    

 - Nunca me vais ver descontrolado.
 - Só se atinge o orgasmo quando se perde o controle da situação.

Já não sei onde começa o meu corpo e onde acaba o teu, penso que estou a sonhar e vou acordar a qualquer momento. Dizes-me que também tu és danificado, que também tu vives atormentado por mil demónios, que talvez juntos conseguíssemos formar um todo completo e feliz. Quero dizer-te tanta coisa, mas as palavras ficam retidas na garganta, não consigo emitir um único som e, de repente e sem saber bem porquê, sinto uma grande vontade de chorar.

A estrada pela frente, não temos sítio algum para ir e temos todos os lugares do mundo. Uma infinidade de possibilidades e um turbilhão na minha mente. Não há como voltar atrás. O ponto sem retorno e um espasmo a atingir-me o corpo, qual descarga elétrica.

- Não fazes a menor ideia do que provocas em mim.
- Toca-me.

Os teus demónios misturam-se com os meus, dançam de forma louca e descompassada, numa fusão a que nenhum de nós quer pôr fim. Não sei sequer como lhe pôr um fim. Se estou descontrolada, então é assim que quero permanecer.

- Tenho tanta fome de ti.
- Deixas-me doida...

Ronrono-te ao ouvido, repito o teu nome como uma prece. Quero guardar-te dentro de mim para sempre e conservar este instante. Quero lamber o teu corpo e assim sarar as tuas feridas. Quero que me mates de gemidos antes que morra de vontade. Quero muita coisa a que não sei dar nome mas, quando volto a ter noção de mim, a chuva ainda não parou de cair, solitária e fria, a escorrer-me pelo corpo.  

Comentários