Comum


Não tenho absolutamente nada para dizer. Só me apetece gritar o desinteressante em que me estou a tornar. Nem uma palavra com préstimo. Vazia. Sou um grande buraco cheio de nada.

Era uma casa, como qualquer outra, mas aquela era a minha. Sentei-me no chão da sala despojada de móveis e fiquei ali na penumbra, no meio daquele jogo entre a luz e as sombras. Apetecia-me chorar. Acho que nunca me tinha sentido tão sozinha em momento algum.

O metro a transbordar. Gente que se comprime e espreme, gente que vai para todo o lado e para parte nenhuma. Os vidros das janelas escorrem gordura, o metro apita sem se deter. Podia continuar para sempre na sua corrida louca e desenfreada, sem parar, seguir sempre em direção a nada. As portas abrem-se, as pessoas são cuspidas lá para fora, uma por uma. Eu fico, olhos cravados no vazio, no chão sujo, na paragem que não chega nunca.

O calor espalha-se pelo alcatrão, acaricia o asfalto. Ruas vazias, ruas de agosto. As canções em repeat, a ecoarem-me nos ouvidos, pelos olhos dentro, a transbordar.

Enrosco-me no soalho como um animal ferido. As paredes forradas de espelhos refletem o que tanto quero ocultar. Um momento inteiramente meu, em que posso pousar a cabeça no chão e deixar-me ser. Um momento em que nada é devido nem esperado. Apetece-me ficar neste momento, mas os ponteiros do relógio dizem-me que já é tempo de regressar.

Podia ser excepcional. Quase perfeito. Podia ser mais. Arde-me a impotência e a mediocridade de ser apenas comum, só mais um entre a multidão cega, que avança sem saber para onde. Nunca gostei de pessoas, mas afinal sempre procurei ser igual a elas. Demorei a aprender que ser diferente nem sempre significa ser pior, quase nunca significa ser pior.

Sou tudo menos comum.

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