Seria exagero se dissesse que foi como ir ao inferno e voltar. Seria injusto, até. Penso no Pedro e na Verónica e sinto-me ridícula. Eles sim, foram ao inferno e voltaram. E da última vez o Pedro não voltou e a Verónica teve de encontrar o caminho de regresso sozinha. São estas coisas que me fazem zangar com Deus, que me fazem exigir respostas. A Verónica só pode ser uma verdadeira força da natureza. E o Pedro era das melhores pessoas que alguém pode ser.

Deus não me responde quando faço perguntas difíceis. Por vezes mesmo as mais simples ficam sem resposta. Se calhar é mais fácil não acreditar em nada, afinal. Quem não acredita em nada também não se desilude, não questiona, não se revolta. Custa menos aceitar sem questionar? E será a fé uma escolha? Nunca me pareceu que fosse, da mesma forma que o amor não o é.

De onde vem esta força? De Deus? Ou da vida que nos enche de pancada? E se um dia essa força acaba? Sou sempre tão dura comigo mesma. E com os outros. Talvez não saiba lidar com a diferença, talvez isso faça de mim má pessoa. Talvez tudo passe pela aceitação, de mim mesma, dos outros, de Deus, do mundo.

Um vazio que parece que começa no estômago e vai subindo, aperta até quase deixar de conseguir respirar. Penso em como sou egoísta e ingrata, penso nas pessoas que passam fome, nas criancinhas da Síria, penso nos animais que sofrem. Penso e torno a pensar e nada faço. O vazio acaba por me engolir.

Faço as pazes com Ele. Não sou de ficar muito tempo zangada com quem quer que seja. Ainda não lambemos devidamente todas feridas, as cicatrizes ainda estão a sarar, mas lá chegaremos.

A fé não seria verdadeira nem real, simplesmente não seria fé, se apenas acreditássemos quando está tudo bem.

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