Ela soube logo ali que as palavras tinham conhecido um fim. Soube, mas fingiu não ter compreendido. Foi necessário ele vir com o tom de enfado, assim uma frieza desprendida, mas que aborrecimento ter agora de se estar a explicar. Mas aí já foi impossível continuar a fazer de conta que não sabia. Chegara o fim, mas ela não se tinha preparado para o enfrentar.
E agora, controlar os impulsos? Tanta coisa que tinha ficado por dizer.
Nem sabia como reagir, se devia ficar chateada com ele ou com ela mesma e toda aquela precipitação ridícula, a falta de jeito tão sua em dar o devido tempo às coisas. Quanto mais remoía, maior a raiva. Não tardou muito a chegarem as lágrimas também. Já sabia que acabariam por vir. Precisava de gozar a tristeza à vontade e sem testemunhas. Enfiou-se no duche e deixou-se escoar pelos canos.
Se ele lhe tivesse batido, não tinha doído tanto.
Talvez ainda pudesse recuperar as palavras. Enfiou os dedos pelos cabelos, apertou a cabeça com força. Tinha tanto para viver! E tanto medo de não estar a aproveitar, de ter as prioridades todas trocadas.
- Não tenho tempo a perder com as tuas infantilidades, as tuas hesitações constantes. Não tenho tempo a perder contigo, ponto.
O cruzamento tão movimentado àquela hora do dia. Formigueiros de pessoas em todas as direções, carros a buzinarem furiosamente, as minhas mãos carregadas de sacos. Não sei por que raio tinha tantos sacos, mas a recordação é nítida, os dedos inchados do peso e do calor daquele fim de tarde. As palavras disparadas, acertaram-me em cheio na testa.
Já lhe tinham dito que as pessoas não mudam. Gostava de acreditar em segundas oportunidades, acreditar que uma pessoa pode sempre reinventar-se. Se calhar tinha andado equivocada todos estes anos. As pessoas não mudam.
- Alguma vez escondi o que queria? Sempre fui muito claro. Nem era a meta que me importava, mas sim o caminho até lá chegar.
A necessidade de validação constante. Como se tivesse de provar alguma coisa ao mundo ou, quem sabe, apenas a ele mesmo. Assim que deixei de ser novidade, perdi o interesse. Descartada. Talvez fosse castigo, uma espécie de punição por um passado negro que teimava em vir à tona.
Saiu do banho e deixou o corpo escorrer pela casa, a cada passo que dava no soalho envernizado cada gota era uma palavra que se despedia, abandonava-a para não mais voltar. Até não restar nada, nem mais uma, nem uma única palavra por dizer.
Talvez ainda pudesse recuperar as palavras. Enfiou os dedos pelos cabelos, apertou a cabeça com força. Tinha tanto para viver! E tanto medo de não estar a aproveitar, de ter as prioridades todas trocadas.
- Não tenho tempo a perder com as tuas infantilidades, as tuas hesitações constantes. Não tenho tempo a perder contigo, ponto.
O cruzamento tão movimentado àquela hora do dia. Formigueiros de pessoas em todas as direções, carros a buzinarem furiosamente, as minhas mãos carregadas de sacos. Não sei por que raio tinha tantos sacos, mas a recordação é nítida, os dedos inchados do peso e do calor daquele fim de tarde. As palavras disparadas, acertaram-me em cheio na testa.
Já lhe tinham dito que as pessoas não mudam. Gostava de acreditar em segundas oportunidades, acreditar que uma pessoa pode sempre reinventar-se. Se calhar tinha andado equivocada todos estes anos. As pessoas não mudam.
- Alguma vez escondi o que queria? Sempre fui muito claro. Nem era a meta que me importava, mas sim o caminho até lá chegar.
A necessidade de validação constante. Como se tivesse de provar alguma coisa ao mundo ou, quem sabe, apenas a ele mesmo. Assim que deixei de ser novidade, perdi o interesse. Descartada. Talvez fosse castigo, uma espécie de punição por um passado negro que teimava em vir à tona.
Saiu do banho e deixou o corpo escorrer pela casa, a cada passo que dava no soalho envernizado cada gota era uma palavra que se despedia, abandonava-a para não mais voltar. Até não restar nada, nem mais uma, nem uma única palavra por dizer.
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